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O
Lute
é a
Cartilha no Superlativo
. Eu fiz para bloquear a Avenida Rio Branco.
Claro que eu não iria bloquear nada, mas tinha 8 metros de comprimento e
2,40metros de altura. Foi o tamanhomáximo que consegui construir. Você
imagina como era fazer uma obra desse tamanho naquela época, além da
inutilidade daquilo? Ela ficou muitos anos em frente à Cinemateca, até o
dia em que pegou fogo lá. O
Lute
estava na frente de uma parede e o fogo
imprimiu essa palavra nela. O Walter Carvalho foi o único que conseguiu
entrar e filmou a palavra impressa na parede. O
Lute
foi restaurado e está
no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro até hoje. Criou vida própria e
ganhou um significado que não tinha.
Num Salão de Artes, se não me engano em Belo Horizonte, o júri, do qual
você fazia parte, foi considerado subversivo pela justiça militar.
Foi em 1976, no IV Salão Global de Inverno realizado no Palácio das Artes,
em Belo Horizonte. O mesmo salão, num segundo momento, se transferia
para Ouro Preto e fazia parte das atividades do Festival de Inverno. Eu era
diretor da Escola de Artes Visuais do Parque Lage e fui convidado para ser
um dos membros do júri, junto com Frederico Moraes, Carybé e Mario Cra-
vo, o escultor. Resolvemos premiar a obra
Pendor da Igualdade
, de autoria
de um jovem artista chamado Lincoln Volpini. A obra foi considerada sub-
versiva pela ditadura militar e foi apreendida no dia da inauguração por
agentes da polícia federal. O artista premiado e todos os membros do júri
foram denunciados e incursos na Lei de Segurança Nacional. Estávamos
sujeitos à prisão. Sofremos um processo militar que durou mais de um ano
e, finalmente, fomos absolvidos. Durante o julgamento aproveitei para fa-
zer vários croquis que resultaram num grande painel com relevos de ma-
deira, a que dei o título de
O Julgamento
(1979). Há um aspecto irônico, ou
seja, a obra acabou representando a justiça militar julgada pelo artista.
Fale sobre a sua experiência como diretor da Escola de Artes Visuais do
Parque Lage, da qual você foi o primeiro diretor.
Eu fui o criador da Escola de Artes Visuais. Antes chamava-se Instituto de
Belas Artes (IBA) e nós mudamos para Escola de Artes Visuais (EAV) do