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Parque Lage, em agosto de 1975. O Paulo Afonso Grizolli, que era um autor
de teatro importante, tropicalista, e cuja peça,
Onde Canta o Sabiá
, tinha
feito um enorme sucesso, foi designado diretor do Departamento de Cul-
tura da Secretaria de Educação e Cultura do Estado do Rio de Janeiro, e me
chamou para dirigir a escola de artes plásticas. Ele me informou que tam-
bém havia convidado o maestro Ayrton Escobar para a escola de música e
o coreógrafo KIaus Vianna para a escola de dança. Eu pedi um tempo para
decidir. Estava recém-chegado dos Estados Unidos e disse a ele que não
era o meu perfil e que não queria me meter em atividades pedagógicas. Ao
mesmo tempo, eu sentia enorme necessidade de abrir espaços para discu-
tir arte e refletir sobre questões culturais. Indeciso com o convite, comentei
com Lina Bo Bardi se deveria ou não aceitar, e ela imediatamente me disse:
“Aceite! E, se achar que deve sair, você pede demissão.” Então redigimos,
juntos, uma carta de demissão, que estava sempre no meu bolso, assinada
e pronta para ser entregue, a qualquer momento. E assim eu dirigi a escola,
por muitos anos, de agosto de 1975 a março de 1979. Foi uma experiência
muito rica. Adotamos uma postura aberta, “sobre bases antropológicas”,
como dizia a Lina. A escola fez a exposição retrospectiva das maquetes dos
cenários de Hélio Eichbauer. Inclusive dos cenários de
O Rei da Vela
. Amon-
tagem foi feita pela Lina, que passou a ser uma espécie de conselheira. Os
principais artistas e críticos passaram a freqüentar a EAV do Parque Lage.
Luís Felipe Noé artista argentino, quando vinha ao Rio passava por lá. Ma-
rio Pedrosa, Ferreira Gullar, Roberto da Matta, estavam sempre presentes.
Organizamos espetáculos inovadores, inclusive de música, como o
Verão a
Mil
, comCaetano Veloso, Jards Macalé, Milton Nascimento, Gilberto Gil. Os
espetáculos eram organizados em conjunto com os “poetas de mimeógra-
fo”. O Xico Chaves fazia parte desse grupo, o Bernardo Vilhena, também. A
EAV transformou-se num espaço aberto, dinâmico, multidisciplinar. Lan-
çamos o jornal
Lampião Gay
. Abrimos espaço para expressões que estavam
reprimidas pela ditadura e sofremos as conseqüências.
Vamos falar de um personagem que passou a ter uma importância
extraordinária depois que você pintou. Transformou-se numa espécie de
Monalisa tropicalista, a Lindonéia. Uma nova musa brasileira.