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amigos poetas, para os quais fazia capas dos livros. Fiz o primeiro livro de
Armando Freitas Filho, que considero um irmão, chamava
Palavra
. Come-
cei a brincar com esse nome, fazer um concretismo inspirado pela sabedo-
ria deles. Eles eram poetas e eu o amigo dos poetas.
O Ferreira Gullar tinha grande presença nesse tempo. Tem alguma relação
com você?
Ele já era, naquele tempo, uma pessoa fantástica. Eu não perdia nenhuma
Revista da Civilização Brasileira
. Lembro-me que ele fez uma matéria comi-
go e o Antonio Dias. Houve um diálogo, algo até áspero, mas eu prestava
muita atenção no que ele dizia porque era muito pertinente. Há também
um fato curioso. Eu refiz quatro obras do Gullar a partir de desenhos do
Hélio Oiticica. A mulher do Gullar tinha jogado na lixeira do prédio, não
queria guardar os poemas. Refiz um poema que era um cubo azul. Quando
você levantava esse poema aparecia a palavra “
lembra
”. Refiz um outro
com uma gaveta que eram duas placas brancas escrito “
pássaro
”. Quando
você abria, apareciam asas. O Hélio Oiticica conhecia bem esses poemas
que foram destruídos e ele me orientou na reconstrução. Nós incluímos
todos eles na Nova Objetividade [uma das principais coletivas, acontecida
no Rio, na década de 1960]. Foi a primeira vez que nossa geração incluiu
numa mostra algumas obras da geração precedente. Assim os concretistas
Ferreira Gullar e Aluísio Carvão, com seu
Cubo-Cor
, participaram da Nova
Objetividade.
O Gullar passou depois por uma grande mudança. Largou a idéia do
concretismo e se engajou na questão ideológica, política, produziu uma
obra engajada, voltada para a questão da luta de classes.
Como estudantes éramos muito próximos disso e mexia muito com a gen-
te tudo o que acontecia a nossa volta. Nós participávamos como artistas
contra a ditadura e, de certa forma, de todos os acontecimentos políticos,
daquela época.
Você vai usar a palavra também como luta política. Por exemplo na sua
obra
Lute
.