Página 83 - Rubens Gerchman - O REI DO MAU GOSTO

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A origem conceitual desses trabalhos está nas Caixas de Morar, onde
retrato a asfixia dos pequenos apartamentos de Copacabana.
A palavra ar saiu de morar. Percebi que o significado das palavras havia
empobrecido, em alguns casos havia perdido seu significado primordial,
ou seja, estavam corrompidas, empobrecidas. Então eu procurei fazer uma
nova cartilha, a
Cartilha no Superlativo
e construí palavras gigantes...
E que revitalizavam seus conteúdos.
Utopicamente devolviam à palavra seus significados. A primeira palavra
construída foi
AR
, realizada de fórmica azul, depois
LUTE, S.O.S
. A palavra
TERRA
foi executada em negativo, com as letras enterradas na própria cai-
xa. Em 1967, construí
ÁGUA
- uma caixa de acrílico transparente, de grande
formato, cheia de água. Essas obras, produzidas antes da minha viagem a
Nova York, são os embriões dos pocket stuffs.
Só que agora você trabalha com um novo idioma.
Nos Estados Unidos procurei explorar as possibilidades da língua inglesa,
suas ambigüidades. Por exemplo, na obra
MENWOMEN
(homensmulhe-
res) a intenção era fazer uma cerca contínua, sem fim -
MENWOMENWO-
MENWOMEN
... - com dobradiças, como uma espécie de biombo. As letras
wo
” tambémsignificam“
rib
”, costela, e dava a conotação bíblica à palavra.
Soube ainda que em inglês arcaico omesmo som “
wo
” significava também
a melodia de encantamento que o macho usava para atrair a fêmea.
Ao contrário da
Cartilha no Superlativo os pocket stuffs
eram objetos de
pequena dimensão.
Pensei em pequenas caixas que poderiam ser levadas no bolso. Marlisse
Simons, jornalista do New York Times, foi quem melhor sintetizou o que
era o
pocket stuff
.
“Pocket Stuff is to carry
A token poem, an open poem