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politizado, inclusive precoce, porque aos 18 anos já tinha um desenho ex-
traordinário. O Roberto era talvez o melhor desenhista do nosso grupo. O
Pedro Escosteguy era sogro do Dias, poeta concretista vindo de Porto Ale-
gre, muito politizado também, descendente de bascos, era como um anar-
quista basco, e se juntou ao nosso grupo. Mais tarde, conhecemos num Sa-
lão de Arte Moderna o Carlos Vergara, sentimos logo que havia afinidade
entre nossas idéias e o convidamos para participar do nosso grupo.
Você também é um poeta, se observarmos que sua obra está muito
vinculada à palavra. Como a poesia entra na sua vida?
EmNova York, passei a lidar comuma língua estrangeira. Aqui, em 1967, eu
já tinha feito a minha gramática, que chamei
Cartilha do Superlativo
. Das
caixas de morar eu fiz
TERRA, LUTE, S.O.S
e um
AR
, que está no Masp. Tinha
uma caixa com a palavra
ÁGUA
, mandei recortar letras de acrílico que flu-
tuavam, a água brotava da palavra, eu dizia que o significado das palavras
estava desgastado, queria revigorá-Ias, devolver o significado original.
Você mexia com coisas muito inovadoras na época, a questão do
significante e significado, a construção da palavra como objeto. Essas eram
questões que a poesia começava a tratar dentro do concretismo?
Nós não tínhamos computador, fazíamos maquetes de madeira, constru-
íamos modelos e precisávamos arrumar pessoas que conhecessem as téc-
nicas. Quando cheguei a Nova York fui trabalhar em uma fábrica de acríli-
co. Fiz um
AR
de algodão e acrílico, coloquei as nuvens. Comecei depois a
rodar um filme sobre os elementos, as palavras flutuavam no mar, pega-
vam fogo, eram enterradas.
Qual era sua relação com as outras artes? Com o cinema, por exemplo...
O Joaquim [Pedro de Andrade] me convidou para fazer
Macunaíma
[filme
de 1969 com Grande Otelo e Paulo José, ambos no papel-título]. Eu seria
cenógrafo e figurinista. Mas ganhei o prêmio de viagem ao exterior, no
Salão de Arte Moderna, em 1967, exatamente no mês que iniciavam os