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pintava multidões. Eu ficava impressionado quando entrava no Maracanã
e via aquela massa maravilhosa, não dava para saber quem era quem, só
reconhecia as cores e quando era gol, tudo vibrava! Eu sentava na torcida
do Flamengo porque lá todos se levantavam produzindo ondas humanas.
Essa coisa de desenhar o anônimo sempre me interessou, o ser humano
perdido no meio da rua.
Comecei a colocar placas onde se lia
“Proibido virar à direita”
ou
“Trânsito
impedido”
, era nossa facção de estudantes, de contestadores. Todos esses
sinais da cidade - faixas, zebras e formas geométricas - eu incorporei ao de-
senho de uma forma um pouco expressionista, e em preto e branco, vindo
da litografia e da xilogravura.
Você foi o primeiro artista a dar ênfase à cultura popular, não do ponto de
vista piegas, paternalista ou folclórico, mas valorizando-a. A sua obra, já
do início, retrata essa questão associada aos problemas sociais. Começa a
ter um aspecto humano muito forte. Você se interessa pelas massas, pelas
multidões, aglomeradas no centro do Rio de Janeiro e nas periferias, nos
transportes coletivos, nas filas. Seu olhar se volta para o cotidiano popular.
Um trabalho que eu gosto muito dizia: “Vai comer e morar um ano de gra-
ça com toda a família”. Era um carnê que as pessoas compravam e ganha-
vam a garantia de ser sorteadas. Eu denunciei isso como uma fraude por
causa de um argentino que vendia um tipo de carnê, chamado Carnê For-
tuna, e sumia depois com o dinheiro, nunca entregando a tal cesta básica
que prometia. Era o problema da fome no Brasil. Depois trabalhei com o
concurso de
miss
, com o futebol e com a carteira de identidade. Eu tinha
uma certa proximidade com esse universo porque trabalhava em uma re-
vista de fotonoveIas chamada
Sétimo Céu
, que era consumida pelas classes
mais simples da sociedade. Eu extraía muita coisa dessa revista.
Uma seção que eu adorava era
Correio Sentimental
. As pessoas trocavam
cartas, e eu lia centenas delas. Eu misturava as histórias, fazia novas bio-
grafias; desse mundo saíram os primeiros personagens femininos que
foram as participantes do concurso de
miss
. Depois fiz quatro professo-
rinhas, o texto dizia: “A história de um assassino ou como age um pintor
jovem diante de um tema ou uma idéia sobre essas lindas criaturas”. Era