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do homem em seu meio nos anos 70, pelo abismo dos anos 80 e pela arbi-
trariedade fim-de-século destes anos 90.
Esse coerente “ponto de vista” que Gerchman adotou, tem um paralelo
cinematográfico no qual Alfred Hitchcock formulou em seu filme
Janela
Indiscreta
. A partir da janela de sua sensibilidade, Gerchman tem estado
atento à realidade à qual pertence. Tem interpretado uma iconografia de
alguns símbolos brasileiros, recolhido traços característicos, assumido,
como corresponde a todo artista, uma atitude crítica frente a momentos
conjunturais de uma sociedade complexa. Poderíamos dizer que sua pro-
posta está estreitamente ligada a uma sociologia, que sua preocupação
central é revisar continuamente situações sociais.
“Toda a vida humana é
invenção, produção de formas; toda a laboriosidade humana, tanto no cam-
pomoral como no do pensamento e da arte, dá lugar a formas, criações orgâ-
nicas terminadas, dotadas de um alcance e autonomia próprias: são formas
produzidas pelo trabalho humano tanto nas construções teóricas como nas
instituições cotidianas e achados da técnica, assim como em um quadro e
numa poesia”
, observa Umberto Eco. E assim é, o que Gerchman considera
importante não sai nunca de seu olhar. O urbano tem, pois, muitas facetas.
O sócio-individual está determinado por situações que se refletem em re-
lações espaço-temporais muito determinadas. Um conflito que vem a ser
formulado em um espaço anárquico com uma atitude construtiva muito
marcada e uma geometria sintética. Por outro lado, uma atitude crítica ou
sensorial que ele soluciona dentro de uma figuração neo-expressionista; e
seu compromisso com a Nova Objetividade, na dilapidação de objetos que
oscilam de valores em um processo histórico e na recuperação da palavra
como forma harmônica e sublime. Para ele, a palavra é poesia. Extremos
que fazem parte de uma mesma linha, que são aspectos de uma mesma
realidade, instâncias que o levam a reconhecer-se nesse espelho funda-
mental, que é o da existência.
O começo da dualidade
Rubens Gerchman é um artista que sempre conheceu seu destino. Com a
imaginação unida, desde o início, às suas possibilidades artísticas, buscou,
na prática, o desenvolvimento de uma sensibilidade latente. Seus pais vêm