Página 48 - Rubens Gerchman - O REI DO MAU GOSTO

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Da redundância de colocar a palavra água escrita dentro de um cubo de
água vemmais fora, se ganha uma sobrecarga de informação.”
A lógica é de um desdobramento do sentido. Contra o esquecimento, a pa-
lavra inserida numa forma que lhe diz respeito acentua a sua significação.
É relembrada e ativivada. Ao mesmo tempo, há um jogo lúdico nessas rela-
ções entre a palavra e a coisa. Oiticica sobre elas lembra-se de Lewis Carrol
quando refere-se
às letras de bolso e às coisas de bolso
. “Eu defendo uma
visão lúdica da arte, ser criança seria a salvação de todos nós. Proponho
uma arte visual, conceitual e tática.” Diria Gerchman quando chegou ao
Brasil em 1971.
Se muitos desses trabalhos contam com a data do tempo é porque a con-
vicção de Gerchman foi a de não se separar da realidade. Na verdade tais
obras, bem diversas do que outros artistas estavam realizando na época,
não deixam de ter um direcionamento crítico. Elas não são um parêntese
para o gozo das idéias. Mesmo lúdicas, tais obras não evitam o projeto ini-
cial do artista: essa tantalização sobre o objeto real, essa constante busca
em captar o real, seja lírico ou dramático.
Neste período Gerchman realiza também o filme
Triunfo hermético
4
, onde
a questão principal traz uma abordagem simbólica da terra. E, finalmente,
apaixona-se por Levi Strauss, principalmente por
Tristes trópicos
. “Acabei
Tristes Trópicos
, que é um poema incrível sobre o Brasil. Encontrei no es-
truturalismo um método de análise para os latino-americanos. Os proble-
mas de antropologia, a descoberta do índio, o papel da desagregação so-
cial provocada pelo colonizador, tudo isto está cada vez mais presente no
que faço”, comentava o artista. Nas obras influenciadas pelo antropólogo
estruturalista, Gerchman utiliza-se de esquemas visuais, fotos, etc. para
indagar-se sobre a destruição de uma cultura.
4
Ver o roteiro do filme
Triunfo hermético
, publicado neste livro (N.O).