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Mas em meados da década de 70, depois dessas experiências, Gerchman
parece desmentir, um pouco, o seu poema nova-iorquino, principalmente
no que diz respeito a espaços não-geográficos. Há um espaço geográfico e
sentimental, que faz emergir a poética gerchmaninana: o espaço é urbano
e sua geografia temumnome: a cidade do Rio de Janeiro. Em 77, volta a sua
fenomenologia original: o desenvolvimento dos mistérios da cidade. Vem
os amores do “banco de trás”, os motéis com gás neon, o erotismo vivido
num lugar e num espaço específico. Tem razão Jayme Maurício quando
escreveu sobre a sua exposição de 1977, na galeria Paulo Bittencourt, “não
queria falar em sociologia da estrada, pois a rodovia do artista é essencial-
mente urbana, ele se afasta para irradiar a sua atmosfera ou então colher
elementos – rótulos de pinga, um caso – que se integram ao complexo ur-
bano. E o faz à maneira carioca”. Gerchman tinha, quase no final da déca-
da, reencontrado a sua verdadeira antropologia. Ela estava na decifração e
na representação dos signos e dos desejos de uma cidade.
Wilson Coutinho
(Rio de Janeiro, 1946 – 2003), jornalista, curador e crítico de arte.
Escreve em jornais como o
Jornal do Brasil
(1980-1986), no qual foi fundador e editor do
Caderno Ideias
(1989-1992) e no
O Globo
(1994-2003), e em revistas como
Arte Hoje
,
Gávea
e
Veja
. Foi curador do MAM-RJ (1997). Entre as suas principais curadorias desta-
ca-se
Do moderno ao contemporâneo na Coleção Chateaubriand
(MAM-RJ e Fundação
Calouste Gulbekian, Lisboa, 1982)
com Fernando Cocchiarale e
Opinião 65: 30 anos
(CCBB-RJ, 1995). Coordenou as publicações da RIOARTE (1993-2003). Sobre sua obra
ver o livro
Imediações: a crítica de Wilson Coutinho,
organizado por Izabela Pucu (Rio
de Janeiro: Funarte, 2008).