Página 27 - Rubens Gerchman - O REI DO MAU GOSTO

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Por êsse tempo, começaram a aparecer os relevos em meu trabalho. É in-
teressante como tal processo viria a repetir-se em um outro trabalho meu,
“A Cidade”, constituído por um recipiente - uma baleira -, cujas diversas re-
partições continham cabeças de bonecos, representando os moradores de
uma habitação coletiva. Nesse “objeto”, o comportamento do· espectador
era diferente, porque a baleira girava, ao seu impulso, e ele ficava parado.
O terceiro fato importante foi a exposição “Pare”, na G-4, que contou com
um
happening
de três artistas: Carlos Vergara, Pedro Escosteguy e eu. Foi,
esse
happening
, a minha primeira experiência no sentido de colocar o es-
pectador dentro de uma estrutura de madeira, revestida de plástico trans-
parente, dentro da qual ficava preso (o plástico era grampeado depois)
como emuma jaula. Pelo lado de fora, eu pintava o plástico com
spray
colo-
rido, fazendo os espectadores desaparecerem paulatinamente por detrás
das cores. Acabada a pintura, estava acabado o
happening
, e os espectado-
res tinham de debater-se, lá dentro para arrebentar a estrutura de madeira
e libertar-se. Pregado por fora, havia um cartaz: “Elevador Social”.
“Pare”, a exposição propriamente dita, foi organizada por David Zingg, que
trabalhou à bessa[sic] até o dia da inauguração, em maio de 1966. A coisa
contou com a participação de cinco artistas - além dos três já citados, que
fizeramo
happening
, estavam tambémRobertoMagalhães e Antonio Dias,
isto é, todos de formações individuais as mais diversas.
A exposição foi inaugurada, ou melhor, explodiu, com inusitada publicida-
de. Não me lembro de ter visto jamais tanta gente em vernissage. Não se
vendeu quase nada, a crítica omitiu se. Realizou-se, entretanto, um aconte-
cimento que considero da maior importância, aquêle que resolvemos cha-
mar de
happening
, por falta de melhor expressão.
O primeiro, de Vergara, que obrigava o espectador a olhar por um furo em
uma tela branca, pendurada na parede, tinha os seguintes dizeres: “O pin-
tor pinta, o pintor faz pensar. Olhe aqui”. Atrás do tal buraco, localizado há
pouca altura do chão, o que obrigava o espectador a uma posição incômo-
da e deselegante, lia-se mais ou menos isto: “Em vez de o Sr. ficar olhando
por este buraquinho, nesta posição ridícula, porque não olha em torno e