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a obra, colocando-a em outro contexto – as salas do museu, por exemplo
ela se reduziu às suas verdadeiras proporções. Decepcionei-me. Era pouco,
ainda. Mas eu já me havia situado no mundo.
Nessa mesma exposição, havia um outro trabalho, muito importante para
mim. Construí um quadro, “A Cidade”, em forma de
L
, que se dividia em
três partes: a cidade propriamente dita, na parte superior do
L
; o ônibus,
na parte inferior; e uma placa de trânsito, com um
P
de PROIBIDO. Havia,
porém, um intervalo na parede, que muito me intrigava. Descobri, sim-
plesmente, que a parede aparecia ali, e liguei visualmente as três partes
(a cidade, o ônibus e a placa) por intermédio de uma faixa (zebra) de rua,
preta e amarela. A faixa interrompia-se indo aparecer de novo na placa de
trânsito.
Outro fato importante para mim foi a exposição “Opinião-65”, exposição
já clássica para a maioria dos jovens. Nela, eu expus pela segunda vez no
MAM; a primeira foi no Salão Esso, uma multidão. Em “Opinião-65”, eu
apresentei, realisticamente, uma imagem do futebol, outra das misses, e
por fim um quadro-cartaz, que chamei de “Casal Fartura”.
Houve escândalo, em “Opinião-65”. Chamaram os quadros de
mal aca-
bados, folclore urbano
, e meus colegas mais próximos ficaram com mêdo
daquela minha nova necessidade do real. Os críticos não entenderam o
“Casal Fartura”, que dois meses depois estourou. Contudo, foi a primeira
tentativa de utilizar o cartaz e a imagem de jornal ou revista em um novo
contexto - a tela, este lugar sagrado.
Outros, ainda, acharam que os problemas apresentados não eram daqui,
mas sim americanos. Nessa época, começava-se a falar em
Pop
, por causa
do caso Rauschenberg, na Bienal de Veneza
2
.
Depois de “Opinião 65”, saí para um quadro muito estranho, que se as-
semelhava mais a um cartaz de rua. Era “Homens Trabalhando”, que se
assentava emum cavalete. Esse quadro tinha dois lados, e o espectador era
obrigado a girar em torno dele, diferindo da escultura tradicional por não
ter uma base como tal.
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Robert Rauschenberg recebeu o Grande Prêmio da XXXII Bienal de Veneza em 1964. (N.O.).