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GERCHMAN, O ARTISTA QUE TESTEMUNHA
E SE FAZ PRESENTE
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Rubens Gerchman
GAM me pede um depoimento. E poderia começar assim: meu nome é
Rubens Gerchman, tenho 25 anos, 1,73m. de altura, e minha carteira de
identidade, do Félix Pacheco, tem o registro: 1566-166. E sou pintor.
Prefiro sempre dizer que o que faço - minha obra - é o meu
depoimento
diário
. Autobiográfico. Costumo dizer que não invento nada. As coisas aí
estão. Apenas, é preciso ver, saber ver. Sou constantemente envolvido pe-
los acontecimentos. Escrevi outro dia, a propósito de a ditadura das coisas,
o seguinte:
Dar, realisticamente, imagens urbanas
Múltiplas, facetadas, simultâneas
Mural fotográfico para ser lido
Somar indefinidamente novas imagens
Envolvido pelos acontecimentos
O artista testemunha
E faz-se presente.
Alguns fatos foram importantes para mim. A primeira exposição na Ga-
leria Vila Rica, em 64, por exemplo, quando descobri meu mundo interior.
Depois, a exposição na Relevo, em 65, onde conscientizando a multidão
pela primeira vez, situei-me no mundo. Pintei naquela época uma multi-
dão negra, de 1,20 x 1.90ms., que crescia interminavelmente até a borda do
quadro. Dobrava a quina e continuava negra, de encontro à parede.
Ora, eu trabalhava em um quarto de 2 x 2 ms. Queria fazer uma multidão
formidável, que saltasse domuro e envolvesse o espectador. Quando retirei
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GERCHMAN, Rubens.
O artista que testemunha e se faz presente
. In: Revista Galeria de Arte
Moderna, Rio de Janeiro, junho, 1967. (N.O.).