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comentário avaliador, e sem contemplação, do que ia fazendo. A dedicação
e a força eram, desde cedo, inerentes a ele.
Esse é o “retrato do artista quando jovem” realizado por ele mesmo que eu
trago à tona do papel. Ainda não tinha o estatuto dos autorretratos que
iria compor mais tarde. De lá para cá, não houve exatamente mudança,
mas acréscimo: do microcosmo de uma sala de aula para a cidade toda que
ele desenhou e pintou com a mão liberta do exercício, para chegar, com o
empenho de sempre, à da expressão plena, ampliada, militante e alerta.
Por causa dessa mistura violenta de vocação e talento raro, o grau de
comprometimento é elevado, por causa dessa “febre” alta e fé insone,
Rubens Gerchman foi o maior pintor da sua geração: seus quadros são
célebres porque acompanham nossa existência no que ela tem de mais
íntimo e público; das escaramuças do amor nos bancos de trás dos
carros parados à beira-mar, aos desencontros de toda a gente nos ônibus
atopetados, no atropelo das calçadas onde se amassam, amarrotados,
perdidos e solitários no frege da multidão.
Por uma feliz coincidência escrevo essa apresentação para o livro que a
Funarte vai publicar com sua obra, assim como, em 1978, escrevi o poema
“Cidade Maravilhosa”, que abre o opúsculo, que essa mesma Funarte
publicou comumpioneiro apanhado antológico de seus desenhos, pinturas
e intervenções. As “tabelinhas” que sempre fizemos durante 50 anos de
amizade, que não perdeu o fio, de textos para suas exposições e capas para
os meus livros e de dois livros de autoria conjunta,
Mademoiselle Furta-Cor
e
Dupla identidade
, mantiveram seu princípio ativo vivo. O poema citado,
que vai reproduzido, não fechando um círculo de colaborações, mas o
abrindo aqui, novamente, para fixar na lembrança de outros leitores o que
melhor pude fazer para flagrar, quase ao mesmo tempo, o que ele me dizia
e fazia, “pintando o sete”: