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TESTA A TESTA
Conheci Rubens, no colégio, em 1958. Sentávamos numa carteira dupla.
Ele não era ainda Rubens Gerchman, o pintor, mas o aprendiz de si
mesmo. Os seus cadernos escolares, ilustrados a lápis por vários rostos
dos nossos colegas de classe, testemunhavam o nascimento de uma
vocação. Vislumbrávamos a sala onde estávamos, o quadro-negro, o
Carlos Rodrigues Brandão, nosso querido amigo, sentado logo atrás, e que
dava com o dicionário de latim nas nossas cabeças quando a conversa
cochichada aumentava o volume, atrapalhando a fala professoral; era
como se estivéssemos do lado de fora, embora nossas figuras aparecessem,
dentro da aula desenhada.
Rubens trabalhava a sério, com uma borracha verde sempre na mão
esquerda corrigindo o que lhe parecia impróprio. Não fazia charge,
caricatura: procurava a cópia fiel, sem tirar nem pôr. Portanto, o rapaz
desenhador nunca foi umdiletante. Sem saber, ou talvez intuindo, ele fazia
dois cursos ao mesmo tempo: o do colégio e o dele mesmo, que nada tinha
de amador, muito pelo contrário; o que esboçava ali era o seu futuro. Essa
pegada “profissional” me impressionava. Não sabia o que hoje sei, mas
sentia a urgência que emanava dele, a vida que punha naquelas vinhetas
e a vibração daí advinda. Eram seus primeiros desenhos e eram os últimos.
Não pegava o lápis à toa: pegava-o para valer, para o que desse e viesse.
Quando escrevo agora sobre aqueles idos, me lembro com nitidez da
concentração absoluta que chegava a “envelhecer” o desenho do rosto
tão moço debruçado sobre o caderno e da sua espera angustiada por um