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O Hélio Oiticica diz em um depoimento que você seria o co-autor dele nos
parangolés
. É verdade?
Fizemos o
Parangolé Social
juntos
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. Eu ajudei a fazer muitas faixas, entre elas
Estou possuído e Mergulho do corpo
. Eu fazia as letras e ajudava a pintar.
Nessa época surgiu o interesse pelas experiências sensoriais, alguns
artistas se interessam pelos processos psicológicos, é quando a Lygia Clark
adota uma nova postura artística e passa a ter um papel importante,
inclusive para a sua obra. Você começa a fazer os penetráveis e os abrigos.
É verdade. Lygia e Hélio foram grandes amigos meus. Lygia me disse uma
frase que nunca esqueci: “Tudo o que eu nego você afirma”. Foi sempre
tão gentil comigo, vestiu aquelas casinhas que eu apresentei na IX Bienal
de São PauIo, em 1967. Eu expus também
O Altar: Agora Dobre os Joelhos
e
disse: “Lygia você tem de entrar na obra, entrar de joelhos”. É uma home-
nagem à mulher. Para você se ver refletida na obra.
Havia uma relação dessas duas obras comas experiências da Lygia e do Hélio?
Havia influência dos dois porque eles falavammuito da participação do es-
pectador na obra de arte. Isso vinha ao encontro de todas as nossas idéias
políticas: tirar o espectador da inércia para que começasse a usufruir a
obra de arte. Somos um pouco produto do cinema novo, foi algo que me
influenciou muito.
Outro tema que aparecemuito nesse tempo e na sua obra atual é a questão
do erotismo. Mais uma vez, você vai para esses romances urbanos. Como
você vê isso?
É um pouco fruto de lembranças da adolescência, desses amores furtivos.
Sim porque, hoje, todos olhamos o sexo com liberdade e tranqüilidade,
mas na nossa época era uma conquista. Ter intimidade com uma moça
dava muito trabalho. Lembro-me que saía com um primo mais velho que
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OITICICA, Helio.
Parangolé poético e parangolé social.
Disponível em: http://www.itaucultural.
org.br/aplicexternas/enciclopedia/ho/index.cfm?fuseaction=documentos&cd_verbete=4523&co-
d=236&tipo=2. (N.O.).