Página 61 - Rubens Gerchman - O REI DO MAU GOSTO

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seus temas fundamentais: o sentimento do amor e o compromisso com a
realidade, tudo inundado pelo mundo das palavras. A construção de espa-
ços é parte de sua linguagem. A realização de um inventário sentimental e
um outro sobre acontecimentos, com suporte de fotos em preto-e-branco
que ele juntava às notícias dos jornais, determinou-lhe o centro de aten-
ções. Gerchman observava a sociedade com um olho agudo. Sentia uma
espécie de fascínio e ao mesmo tempo rejeição pelas condições da urbe,
pelos protótipos da sociedade, pelos símbolos frívolos da beleza. Lutava
contra os
slogans
da publicidade que vendia a felicidade através de um sor-
riso de pasta de dentes. Por outro lado, a atitude popular referendava nele
uma categoria mais autêntica. Sem o saber, estava comprometido com
correntes que faziam parte de sua época: a Pop Art e a Arte Conceitual.
Era um ser com a rebeldia na pele, que olhava com desconfiança para as
ordens estabelecidas. Com ele transcorria a década de 80, as leis de
Proibi-
do Proibir
eram seus argumentos de vida. De muitos dos símbolos daque-
la época, ficou um inventário. Ele pintou a pílula e realizou um retrato de
Misses
de traje de banho e sapatos de salto alto que era o choque entre a
sensualidade e a crítica. Observou a sensualidade de uma boca aumentada
em detalhe. A pílula, pintou-a como a imagem de uma libertação da men-
te. E retratou uma equipe de futebol olhando uma foto que congelava o
momento do triunfo.
Se a paixão pelo cinema era desmedida interessava-lhe também estudar
a proposta de Gauguin porque esse artista havia alcançado o que naquele
momento mais lhe interessava: a sensualidade tropical e a simplificação
dos planos de cor.
Anna Maria Escallón
(Bogotá, 1954), jornalista, curadora e crítica de arte colombia-
na. Estuda Ciências da Comunicação Social na Universidad Jorge Tadeo Lozano e é
mestre em História da América Latina pela Universidad de Georgetown. Foi diretora do
Museu de Arte Contemporânea na Organização dos Estados Americanos, em Washin-
gton. Colaboradora do
El Espectador
, das revistas
Credencial
e
Arte en Colombia
e da
revista digital www.kienyke.com. Entre os seus trabalhos, ver
Antonio Seguí, Urban Man,
(Washington D.C.: Art Museum of the Americas, 1996);
Botero: New Works on Canvas
(Bogotá: Villegas, 1997) e
Roberto Matta: Architect of Surrealism
(Washington D.C.: Art
Museum of the Americas, 2003).