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arte” deixou de possuir uma convicção empírica. Nesse período, a obra de
Gerchman também sinaliza esse tempo da ”pós-imagem” como se referia
Hélio Oiticica.
Morando no Bowery, uma antiga região fabril ocupada por bêbados e pos-
teriormente por artistas, Gerchman executa num ateliê de 2000 metros
quadrados seus trabalhos nova-iorquinos aliados às novas tendências,
mas também reativando uma ponte com a vanguarda brasileira concreta
e neoconcreta. Contra o excessivo jorro de imagens, capazes de inviabilizá-
-las como um procedimento crítico, Gerchman pesquisa sinais, letras, jo-
gos linguísticos ou paradigmas estruturais. A própria década parecia ser
um marco zero ou se constituir numa liquidação de estilos. “A década de
70 - diz o artista em 71 - não vai definir nada. Será a década do sem estilo.
As coisas são tão mais amplas que não caberão em simples classificações
e rótulos. A arte será entendida como uma visão global e totalizante da
realidade.”
Ao mesmo tempo e, por causa disto, há uma bulimia de procedimentos. A
crise da imagem exige que o artista seja um voraz catador de seixos num
rio seco. Daí, ele monta suas bricolages; trava contra a imagem uma bata-
lha, que o obriga a praticamente extirpar os meios sensórios e intelectuais
oferecidos pela pintura ou pelo desenho, considerados meios falidos. Ana-
lisando seus trabalhos nova-iorquinos, Oiticica dirá claramente; “O que me
interessa nessa evolução de Gerchman é exatamente essa superação de
uma época de superlação da imagem para a formalização de uma síntese
necessária hoje. No Brasil, a idolatria da imagem atinge um nível de redun-
dância e cai num perigoso marasmo; há como que um exercício do poder
da imagem, mas que não leva a transformações e tende a se voltar para