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significados que atribuímos às coisas que vemos? Rubens inscreve as pala-
vras, os nomes, das pessoas e das coisas, integradas na sua representação
do mundo.
Nomear é dar-se cara às diferenças que aproximam e afastam umas as
outras as pessoas e as possibilidades: é exercer-se. E nos inscrevemos nós
uns nos outros no desenho de nossos rostos, dos que contemplamos, dos
que assistimos, dos que amamos, e de tudo isto damos fé. Será esta a pos-
sibilidade de refletirmos a superação da crise, a verdadeira vida, em que
saindo das cavernas para o mundo seremos possíveis de não perder o que
semelhantemente nos une e define como semelhantes.
À diferença das coisas e da natureza o homem é sujeito, cara, por isso ca-
paz de ação, desenho, e ao que olhos vêem pode tornar parecido o que a
cabeça pensa. Por sermos muitos não teremos que nos afogar na massa de
inidentidades que se faz da vida vitima. Em casa ou na praia mudaremos o
mundo à nossa feição e os afetos e as feições, as afeições.
Sergio Santeiro
(Rio de Janeiro, 1944) é autor de diversos curta-metragens e documen-
tários, entre eles
O Guesa
(1969),
Viagem ao interior paulista
(1975),
Ismael Nery
(1979)
e
Encontro com Prestes
(1987), todos estes reunidos na série
Brasilianas,
n. 10, (Rio
de Janeiro: Funarte, 1989) e recentemente lançados em DVD. Participa ativamente da
fundação e da administração da Associação Brasileira de Documentaristas (ABD). For-
mado em Sociologia e Política pela PUC-RJ (1967), leciona na Escola de Artes Visuais do
Parque Lage entre 1975 e 1979, período em que Rubens Gerchman foi diretor da escola.
Desde 1975, atua como professor de cinema na Universidade Federal Fluminense (UFF).