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Antônio Carlos Fontoura, com fotografia de David Zingg. O filme é dividido
em três partes. Primeiro: “Um Jogo de Espelhos”, de Roberto Magalhães.
Segundo: “Preparação para um Contra-Ataque”, de Antônio Dias. Tercei-
ro: “Os Desconhecidos”, de Gerchman. Filme corajoso, feito por um jovem
sôbre três pintores jovens. Fontoura filmou-o em 35 mm com a duração de
18 minutos e a cores, realizando uma experiência que considero importan-
tíssima. A parte de “Os Desconhecidos” foi quase inteiramente rodada na
rua, com os quadros e objetos na calçada, no meio do tráfego, do povo, com
entrevista de som direto e usando a técnica do cinema verdade. Para mim,
essa experiência foi vital. Quanto à maneira de encarar os quadros e obje-
tos feitos até então, tive de rever meus pontos de vista, após êsse contato
do meu trabalho com a rua.
Ainda na G-4, apresentei “A Marmita”, que foi para mim a primeira tentati-
va de uma forma de participação maior por parte do espectador, ao sugerir
que ele segurasse a alça do utensílio. Também “O ônibus”, que ali expus,
sugeria que o empurrassem - ao veículo. Estabeleço uma linha de pensa-
mento até “O Altar”, exposto em “Nova Objetividade”, onde o espectador
é obrigado a ajoelhar-se para perceber o objeto como um todo. No mesmo
sentido, enviei para a Bienal de São Paulo dois trabalhos; “Sempre Perto de
Ti” - onde existe um banco para o casal de espectadores sentar-se, tendo
por detrás um grande coração vermelho com os dizeres do título; os casais
que se sentarem no banco poderão ser fotografados por um “lambe-lam-
be” que estará à disposição dos interessados - e “A Cidade” - em que os es-
pectadores, em número de dois, entram em cada casa-abrigo, totalmente
de plástico e em número de quatro; de dentro do abrigo, de estrutura tão
leve que pode ser deslocado com facilidade pelo casal, pode-se ver o mun-
do exterior, através de uma viseira de plástico. A ação das quatro unidades
desenrola-se dentro de um quadrado de 4,20x 4,20 ms., em plástico ama-
relo e preto.
Bem, eu procurei dizer aqui o que penso de mim e da obra que faço no
momento. Mas não desejo com isto estabelecer conceitos definitivos, que
resultariam em auto-limitações, pois que refaço diàriamente o que penso.