Página 93 - Rubens Gerchman - O REI DO MAU GOSTO

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ENTRE O SAGRADO E O PROFANO
(2008)
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Cauê Alves
Muitos artistas modernos do final do século XIX e início do XX se volta-
ram para a arte não européia ou não ocidental. Os mais célebres são os
interesses de Van Gogh pela gravura japonesa, de Gauguin pela arte do
Taiti e de Picasso pelas máscaras africanas. Já no campo da música pop, o
famoso
Álbum Branco
, dos Beatles foi composto em grande parte durante
a viagem realizada pelo quarteto, em 1968, à Índia. A banda resolveu fa-
zer uma espécie de retiro espiritual com o guru indiano Maharishi Mahseh
Yogi, depois que George Harrison se interessou pela prática da meditação
transcendental. Esse disco marca o interesse da banda pop pela sonorida-
de oriental e por uma escala musical mais ampla.
Rubens Gerchman, que desde seus primeiros trabalhos nos anos de 1960
se aproximou da cultura pop e dos meios de comunicação de massa, tam-
bém se interessou pela Índia. Foi somente entre 2000 e 2001 que realizou
duas viagens místicas ao país, onde fez centenas de registros fotográficos.
Mesmo sendo de família judaica, o artista se encantou pelas celebrações e
rituais hindus, assim como pelos temperos, cheiros, cores e pigmentos da
região. A seleção de imagens que fez privilegiou o templo de Kajurao, que
possui colunas e fachadas repletas de esculturas eróticas feitas em pedra
e terra-cota.
Embora na tradição judaico-cristã o sexo e o erotismo sejam profanos,
para a religião hindu o
kama
(ligado ao amor, aos prazeres corporais e a
satisfação) é um dos três pilares que sustentam a concepção de mundo na
1
ALVES, Cauê.
Entre o sagrado e o profano
. In:
Rubens Gerchman (1942-2008): Fotopintura
.
Folheto da exposição. Rio de Janeiro, Cultural Pinakotheke, 4 de abril a 2 de maio de 2008. (N.O.).