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seus elevadores apinhados e descer várias vezes, repetindo o processo para
ver de perto a cara destas personagens. Dessas vivências surgiram as
Mo-
radias Coletivas
, que pintava à noite emmeu apartamento. Ao descer, estas
multidões de 140x160 pareciam minúsculas e ridículas. Foi depois destas
experiências claustrofóbicas do 200 que surgiram as caixas de
Mor-AR
e
finalmente a solidão da palavra AR, gigante, superlativa.
Apesar dos longos períodos fora do Brasil, foi no Rio, onde vivo até hoje, que
recolhi, em imagens de minha juventude, o material físico que mais adian-
te alimentaria minha produção artística. E é aqui que espero continuar a
recolher estes retalhos de cidade. Guardo sempre a esperança de, um dia,
conseguir localizar, nestes mapas-cidades, nestes mapas-obras, um ponto,
uma estação ainda desconhecida, sempre desconhecida: Rubens Gerchman
Cidade é abrigo, refúgio, sonho,
encontro veloz. Espaço
para deslocar-se, habitar-se, divertir-se,
esquecer-se de si mesmo, encontrar-se outra vez.
É um espaço poético, feroz dissipado na multidão.
Estamos na cidade sós e com todos. O indivíduo e a massa.
Na rua, em um cantinho, a possibilidade de às vezes ser
feliz. Também é possível não estar só na multidão, como no
estádio de futebol. É a possibilidade de ser muitos em um
só. Torcer por seu time do coração.
Na cidade como em tudo, tudo que se vê não é. Tudo o que
se pode ver tampouco é. O escondido é somente o que se pode
perceber. Existe a porta, a janela, a casa, o prédio, a
favela. São caixas de morar. Onde os indivíduos vivem um
tempo interno. A cidade é um outro tempo. É o tempo do
percurso, do recorrido vida-trabalho, tempo de cenários,