53
a diferença, que esse quadro, atestado de signos abstratos, figurativos, re-
conhecíveis, transpostos, funcionará como uma totalidade na qual há con-
fusão de formas, cores gritantes, sublinhadas as vezes com um enérgico
traço negro, que serve de estrutura a todo esse aparente delírio.
Rubens Gerchman é um pintor popular, populista ou popularesco? Nem
tanto como alguns, pretendem caracterizá-lo para se destacar. A coisa é
mais complicada do que parece. Ele é um artista que se inspira no coti-
diano que nos circula: publicidade, cinema, televisão, revistas ilustradas. À
primeira vista sua atitude parece de brincadeira, de festejo carnavalesco,
embora também tenha seu lado romântico e se emocione estampando ca-
sais que se beijam como na capa das fotonovelas das quais não se ri, mas
trata, sim, de sublimá-Ias em uma possível forma de arte através de um
trabalho de depuração.
Seu compatriota Ferreira Gullar expressou-o admiravelmente: “Os pro-
blemas de linguagem pictórica são a preocupação de uma minoria, mas
a guerra, o sexo, a moral, a fome, a liberdade são problemas de todos os
seres humanos”. Desses temas nutre-se Rubens Gerchman para nos comu-
nicar sua euforia visual que é compreensiva, carinhosa e jamais cáustica,
vingativa ou cruel. Todos os países latino-americanos deveriam contar – no
mínimo – com um desses artistas que não estão ressentidos. E que por
defenderem princípios humanos e humanitários, não o fazem destilando
veneno, mas sim dando-nos a todos o que necessitamos, um suplemento
de esperança em nossos melhores valores.”
Damián Bayón
(Buenos Aires, 1915 – Paris, 1995) é escritor, historiador e crítico de arte.
Em 1937-1938 funda e dirige a revista litéraria
Bitácora
. Em 1948 é um dos fundadores
da revista de crítica de arte
Ver y estimar
, organizada pelo crítico de arte argentino Jorge
Romero Brest. Foi conselheiro artístico da Unesco. Em 1992 é fundado o Instituto de
América de Santa Fé – Centro Damián Bayón, em Santa Fé, Granada, Espanha. Entre
os diversos livros de poesia e de crítica de arte de sua autoria, ver
Aventura plástica de
Hispanoamérica: pintura, cinetismo, artes de la acción, 1940-1972
(México: Fondo de
Cultura Económica, 1974);
Historia del arte colonial sudamericano: Sudamérica hispana
y el Brasil
(Barcelona: Polígrafa, 1989) e
La peinture de l”Amérique Latine au XX. Siècle:
identité e modernité
. (Paris: Éditions Mengés, 1990) escrito com o crítico de arte brasi-
leiro Roberto Pontual.