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ALGUMAS PALAVRAS
SOBRE RUBENS GERCHMAN
(1994)
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Damián Bayón
“Várias constatações atuais: A maior parte das pessoas olha mas não vê.
Muitos artistas e críticos contemporâneos não gostam da arte porque
não gostam do mundo, das pessoas, das coisas que povoam esse mun-
do”. Rubens Gerchman – neste tempo estéril e monótono da arte plástica
atual – é uma exceção à regra. Ele não faz outra coisa a não ser olhar, de
manhã à noite e quase como um trabalho, com uma dedicação comove-
dora. E isto que olha grava-se na sua retina como uma câmera fotográ-
fica, até que – mais tarde – dessa coleção de imagens se valerá para criar
desenhos, gravuras, pinturas. Não literalmente, mais assim em forma de
citação, de recordação transfigurada à qual ele acrescenta – então – sua
criação pessoal, enriquecedora, deformante, imaginativa.
Essa multidão que aparece em algumas de suas obras recentes é com-
postas de rostos: com olhos, com bocas. Crítica social, caricatura? Não no
sentido pejorativo do termo, porque o que predomina em seu fazer é um
ato de solidariedade humana. Gerchman – para seu próprio orgulho – é
gregário, gosta das pessoas, de conversar com elas, de misturar-se a elas.
Os franceses têm uma expressão que – traduzida –significa algo como:
“Quanto mais loucos somos, mais gargalhadas damos”. Este poderia ser
um lema de Gerchman, que adora confraternizar, até com desconhecidos.
Caminhar, andar de automóvel, circular por uma cidade com esse pintor
brasileiro é escutar um comentário permanente do que acontece a seu re-
dor: para ele não há feio nem bonito, só conta o visível. E como ele é abso-
lutamente curioso, tudo lhe parece digno de ser registrado, para que um
dia, uma semana, um mês ou um ano mais tarde apareça numa, obra sua,
reelaborada e convertida emoutra coisa que chamaremos umquadro. Com
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BAYÓN Damián.
Algumas palavras sobre Rubens Gerchman.
In: BAYÓN Damián, ESCALLÓN,
Ana Maria.
Gerchman
. Rio de Janeiro: Printz-Z, 1994. (N.O.).