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maneira como falam de nosso imaginário e do inconsciente brasileiro. O
que pode mais desejar um artista?
Mas voltando àquela frase de Guimarães Rosa, posso Iê-Ia assim: quando
o coração está aberto à vida, o tempo não conta, todo o tempo é livre. E
havendo este tempo, há uma disponibilidade afetiva – que a criação sem
afetividade não existe, afirmação que vale também para a crítica, pois toda
aproximação à obra de arte se dá pela via amorosa. É um ato de entrega. O
critico não pode ser, para si e para os outros, um leão-de-chácara da obra
de arte. Quando mergulhamos na arte, entramos no coração do tempo –
vibração pura.
Cor – ação no tempo. Vejo uma cor/rel/ação entre tempo e cor na obra de
Gerchman. Será necessário, um dia, catalogar ou dicionarizar o seu univer-
so imagístico. Aproximar suas imagens por temas, épocas, tipos de supor-
te empregados, tratamento formal, as modificações ou metamorfoses ‘de
cada imagem ao longo de sua obra, fusões etc. Trabalho para algum crítico
com formação escolástica. Ou para algum antropólogo preocupado em le-
vantar o cotidiano brasileiro nas duas últimas décadas.
Digamos, para simplificar, que de início seu olhar estava voltado para o
que acontecia do lado de fora, na
urbs
, nos meios de comunicação massiva.
Anos 60, fase negra, imagens fortes, marcadamente sociais. Nos anos 70,
mais reflexivos, Gerchman interiorizou estas imagens, ou melhor, buscou-
-as no seu circuito mais próximo e íntimo, como que trocou o jornal pelo
álbum de família. No primeiro bloco, havia um certo tom de raiva, uma
postura mais crítica, as imagens chegando a ser recortadas em madeira,
como se ele quisesse carregá-las, como o operário carrega sua marmita.
Recorte agressivo no estrato social brasileiro. No segundo bloco emerge