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O CORAÇÃO MANDA: É TEMPO DE PINTURA
(1986)
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Frederico Morais
Junto a um dos quadros de Gerchman, em seu ateliê, encontro esta fra-
se de Guimarães Rosa:
“Quando o coração está mandando, todo o tempo
é tempo”.
Não sei de que texto ela foi arrancada, ou seja, seu significado
preciso me escapa. Nem pude perguntar ao artista porque ela estava ali,
armada com letras de jornal. Quando fui ver seus novos quadros, os que
aqui se encontram expostos, Gerchman estava viajando e quem me aten-
deu foi seu filho, Micael.
Agora aqui, grifo as palavras
coração e tempo
ainda sem saber o que escre-
ver sobre os novos trabalhos de Gerchman, ótimos como sempre. Talvez
porque tenha uma intimidade muito grande com sua obra, porque guar-
do na memória, nítida, toda a iconografia gerchmaniana. Ela de fato me
acompanha há pelo menos 20 anos e, na minha cabeça, este fluxo imagís-
tico, constantemente autorenovável, confunde-se com a própria imagem
do Brasil, com seus fracassos e vitórias, porque Gerchman é um artista
de plantão diante dos acontecimentos que tem comovido este país nas
duas últimas décadas. E como todo verdadeiro artista, as vezes nem espera
acontecer, antecipa-se, faz sua hora. Nada lhe escapa, a tudo ele se liga e
dá seu testemunho de artista participante.
Neste sentido, como escrevi em outra oportunidade, a importância da sua
obra, vai além do campo estético. Este rio transbordante de imagens que
é sua obra, tem implicações sociológicas, antropológicas e políticas, damesma
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MORAIS, Frederico.
O coração manda é tempo de pintura
. In:
Rubens Gerchman
. Catálogo da
exposição. São Paulo: Montesanti Galeria, 1986. (N.O.).
“Banco de namorados”
Bienal de SP, 1967
fórmica s/ madeira e plástico
200 x 160 cm