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A conversa e os desenhos em voz baixa, na beira da carteira e na margem
do caderno, descritos no começo dessa apresentação evocativa, foram
também o início e a base da nossa convivência e entendimento vida
afora. Mesmo quando não nos víamos, devido às ocupações de cada um,
por largos períodos, retomávamos, no reencontro, a conversa exigente e
produtiva, testa a testa, como que do mesmo ponto, ou, pelo menos, no
mesmo tom. A confirmação definitiva desse sentimento me veio quando
seu filho Micael me disse o que seu pai lhe falara pouco antes de morrer:
que ele gostava de conversar com duas pessoas, com ele, Mica, e comigo.
Como se vê, a conversa continua por escrito.
Armando Freitas Filho
novembro, 2012
Armando Freitas Filho
(Rio de Janeiro, 1940), escritor e poeta brasileiro, autor de
diversos livros, entre eles a sua primeira obra
,
Palavra
(1963);
3X4
(1985), vencedor
do prêmio Jabuti;
Fio Terra
(2000), vencedor do prêmio Alphonsus Guimaraens e
lançado em DVD, com direção de João Moreira Salles (2006);
Máquina de escrever
(Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2003) que reúne os 40 primeiros anos de sua obra,
e, o mais recente,
Lar
(São Paulo: Companhia das Letras, 2009). Como assessor de
literatura, trabalha no Ministério da Educação e Cultura (1974), no Instituto Nacional do
Livro (1980) e no Núcleo de Estudos e Pesquisas do Ibac/Funarte (1994). Desde 1985,
organiza diversas publicações sobre a obra da poeta Ana Cristina César. Seus poemas
Mr. Interlúdio (A mão livre, 1979)
e
Substituir-se, fugir sem rasgar (Números anônimos,
1994)
foram republicados no álbum de litografias
Dupla Identidade
(Bogotá: Arte dos
Grafico, 1994) de Rubens Gerchman.