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Os objetos e a memória representativos do Rubens-pai precisavam se se-
parar e dar espaço à grandiosidade do Rubens-artista.
Junto à curiosidade pessoal de nos aprofundarmos em cada uma daquelas
obras de arte surgia também a necessidade de mapear a dimensão da co-
leção em sua totalidade. E a cada nova descoberta afloravam sentimentos
de muitas naturezas. Às vezes raiva, medo, pranto e riso. Todo dia lidáva-
mos com a ausência e a presença de nosso pai e também com a do artista
Rubens Gerchman.
Começamos pelas pinturas. Elas foram as primeiras obras do acervo a se-
rem verificadas uma a uma e inventariadas. Logo que esse processo se ini-
ciou percebemos que ele precisaria de muito mais que apenas a dedicação
comprometida dos filhos. Foi preciso profissionais com domínio técnico
para medir, fotografar e fazer um registro adequado. Quando chamamos
a museóloga, verificamos a urgências de restauração e tomamos ciência
dos riscos que as obras estavam correndo sem devido cuidado, expostas a
clima e temperatura pouco adequados.
Em seguida, vieram os objetos. Esculturas em madeira, metal, acrílico; cai-
xas de charuto com espelhos, fotos, vidros. Uma mistura de técnicas e ma-
térias tão diversa quanto era possível. Tudo isso parecia nos engolir nesse
primeiro momento. A complexidade do acervo nos fazia ver e rever as de-
cisões tomadas diariamente. Vivemos em constante processo de reorde-
nação e readequação de escolhas, pois tratávamos de objetos vivos que
sofriam - e ainda sofrem - a ação do tempo.